segunda-feira, 24 de setembro de 2012

 

Dohter and Dohter

Gláucia Grigolo


* setembro de 2012


Recentemente tive a oportunidade de fazer um trabalho conduzido pela diretora  galesa Jill Greenhalgh, como atividade integrante do Vértice Brasil 2012, chamava-se Dohter (filha em inglês antigo).
No processo de construção, 10 mulheres artistas foram convidadas a compartilhar suas histórias e vivenciar uma experiência artística profunda. Durante 10 dias, todas contaram histórias umas às outras, fizeram perguntas e ouviram respostas.
Todas tinham uma interlocutora fora do grupo. Alguém a quem faziam as perguntas. Qual a pergunta mais importante a fazer? Qual a pergunta que eu não faria?
Que filha eu sou? Que filha eu gostaria de ter?
O resultado espetacular foi muito particular para cada uma das participantes. Em pequenos altares, construídos com objetos, memórias, fotos e outros elementos, as atrizes apresentaram suas performances ao público.

Este processo eu vivi.

Em Brasília, durante a programação do Solos Férteis, eu vi Dohter. Conduzido de uma forma semelhante, àquela em solo catarinense, porém diferente. Como num confessionário, atrizes e público estavam ligados intimamente. Algumas mesas cobertas com toalhas pretas. Luzes, objetos, cheiro, cor.

Dother (Brasilia) - Foto Filipe Lima

Cada atriz em seu espaço, convida alguém para sentar-se à sua frente. E a partir daí cria-se uma ligação intensa. Histórias e vozes que se misturam no tempo curto de 30 minutos, que nem vi passar.
Qual a música que sua mãe cantava pra você dormir?
Você lembra das histórias que ela contava quando você era criança? Sim, eu me lembro. Mas a atriz que me fez esta pergunta não lembra.... porque sua mãe não as contava...
Ser filha, ser mãe, ser companheira... Nestas funções há uma infinidade de desdobramentos, de sub-papéis que temos que assumir quando somos colocadas diante de uma situação da vida. Ser mulher é muito mais complexo do que qualquer adolescente imaginaria. Carregamos muitas funções dentro de nós mesmas, e a responsabilidade de executá-las bem. São muitas tarefas, muitas cobranças, muitas máscaras do dia a dia que aparecem e desaparecem infinitamente.

Porque é necessário ser uma boa filha? Pergunta Cristina Castrillo na roda de encerramento do Solos Férteis. E ela mesma responde: Às vezes não é necessário ser uma boa filha. Há que aprender a ser mãe de si mesma. Ter coragem de interpretar a própria vida. Defender-se, fazer crescer, iluminar. É uma maneira de devolver o que nos foi dado...

Pronto. E a vida segue. Porque amanhã é outro dia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário