quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

QUE VENHA 2012

Nesta foto: Julia, Rafael, Nilce, Monica, Barbara, Marisa, Glaucia.


Captura de um instante!
Reunidas para celebrar o final de ano e ansiosas e felizes com o ano que virá!!!


Desejamos  um 2012 de encontros, trocas, descobertas, renovação, parcerias, saúde e amor!!!


Um forte abraço da equipe do Vértice Brasil - 
Barbara, Cleide, Glaucia, Marisa, Monica e Nilce. 
E dos queridos parceiros - 
Jefferson, Marcos, Murilo, Ricardo, Roberto G. e Roberto F. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011


ENCONTRO INTERNACIONAL MAGDALENA SEGUNDA GENERACION
MUJER TEATRO Y OFICIO


Barbara Biscaro


“Un viajero con mochilas o com valijas, cualquiera que sea su status o condición social, es un hombre que busca. Se hace preguntas, y tal vez el viaje sea una primera respuesta a sus interrogantes. Puede que en su lugar encuentre más preguntas, o se dé cuenta definitivamente de que el hombre es una pregunta.”
(Marcos Rosenzvaig)


Estava no aeroporto voltando do encontro internacional Magdalena Segunda Generación: Mujer, Teatro y Oficio, quando abro um livro recém-comprado em uma livraria de Buenos Aires sobre Tadeusz Kantor e paraliso neste parágrafo citado acima. Muitas vezes durante uma viagem ou até mesmo durante o retorno para casa, me pergunto constantemente o sentido de viajar. Viajamos muitas vezes sem dinheiro, sem conforto, nos propondo a trabalhar incessantemente. Uma viagem, principalmente quando se viaja sozinha rumo a um contexto desconhecido, representa uma série de interrogações, muitas vezes mais profundas do que podemos suspeitar na superfície deste ato de mover-se. Neste sentido, quando li o parágrafo acima, pude perceber que neste permanente processo de busca, o que me move não são necessariamente as respostas que procuro, mas as perguntas que me colocam em movimento. E este sentido de viajera é a alma de um encontro como o Magdalena 2a Generación, na Argentina: sair de casa (de nossas ilhas individuais) e cruzar distâncias rumo ao outro.

Claro, lembrando das aulas de Lúcia Sander e dos diversos momentos do encontro em Buenos Aires e Dolores, na mesma epígrafe, faria apenas uma mudança: acrescentaria junto à palavra “hombre” a palavra “mujer”... recordando que Lúcia insistiu: devemos nominar a mulher, não aceitar a generalização do gênero humano enquanto gênero masculino, como um exercício constante de construção da memória feminina também no universo da palavra escrita.
vista da cidade de Dolores

É emblemático ler esta frase depois de sete dias intensivos em Buenos Aires e Dolores, com todas as 'chicas' e 'chicos' que com suas malas e mochilas, viajaram com suas perguntas pessoais para compartilhá-las em um momento único. Imposssível então, não pensar nas “Viajeras”, de Natália Marcet, Natália Tesone, Marcela Britto e Laura D'Anna, buscando seu circo perdido ou inexistente, guiadas pelo puro prazer de buscar: buscar incessantemente, mesmo que não se saiba claramente o que se está buscando. Este é o espírito dessas mulheres e homens que se reúnem em um encontro como esse: perguntar-se acima de tudo, e encontrar em muitas outras pessoas (que até o dia anterior eram desconhecidas) um mesmo desejo de transformar a si mesmo, a sua prática, e renovar o sentido de estar diariamente empreendendo uma jornada artística com todas as suas dificuldades, seus prazeres, suas alegrias e suas delimitações.

Tentando fugir do academicismo, mas ao mesmo tempo tomada pelo meu momento pessoal de escrita de uma dissertação de mestrado, lembrei do filósofo Bento de Espinosa e sua definição da ética através da metáfora dos bons e maus encontros. Gilles Deleuze explica que “para Spinoza há uma variação contínua - e é isso que 'existir' quer dizer - da força de existir ou da potência de agir […]”. Isso quer dizer que, dentro de todas as variações possíveis que envolvem a vida e a existência, quando realizo um bom encontro com alguém, este encontro aumenta a minha potência de existir, e por consequência minha potência de agir; quando realizo um mau encontro, este encontro diminui ou inibe a minha potência de agir, me enfraquecendo.  Impossível não estabelecer um paralelo entre esta ideia e a prática do que acontece em um encontro Magdalena: dentro de dezenas de possíveis encontros entre pessoas, aumentamos nossa potência de agir em nossos locais de origem por consequência de diversos 'bons encontros', que frutificam nossas possibilidades enquanto mulheres e artistas. E nesse sentido, o encontro internacional Madgalena 2a Generación foi um grande possibilitador dos 'bons encontros'.
Cecilia Ruiz, Laura D'Anna, Silvia Vladmivsky, Natália Tesone e Lúcia Sander

Cito Espinosa e meu academicismo temporário também porque tenho refletido muito sobre as formas de registro de momentos tão especiais como estes, sendo as palavras e o texto escrito uma das formas de registrar o passado. Empreender uma espécie de caminho inverso, quando o registro qualifica uma reflexão a partir de elementos reais e práticos, vividos no corpo: um encontro entre pessoas, o compartilhar de práticas artísticas, conviver entre a comida, o sono e o cansaço. Desta forma sonho com o ato de registrar como um ato criativo. Assim como se busca fazer da voz falada um modo de tornar viva a palavra escrita no teatro, posso buscar a vida na palavra escrita quando ela dá forma a uma vivência muito forte como a que passamos juntas na Argentina neste período.

No espetáculo de Helen Chadwick, “Dancing in my mothers arms”, no chão está traçada uma diagonal de objetos, sons, sabores e memórias. Traçar estas diagonais dentro de nós mesmas significa talvez, como faz Helen, cantar nossas próprias memórias, cantar como um modo de ser ouvido e de ouvir a si mesma. Cantar como se não houvesse amanhã. As ausências, como falaram de forma linda Hildy Quintanilla Ocampo e Lúcia Sander, marcam essa minha reminescência: só porque uma coisa não pode ser lembrada, não quer dizer que ela não aconteceu. Só porque uma pessoa não está, não significa que ela não exista ou não existiu. Exatamente por isso é necessário celebrar a memória, como faz de forma tão linda Ya Ling Pen, ou como podemos sentir em “Semillas de Memória”, de Ana Woolf.

Na tarde que passei em Buenos Aires fazendo hora para pegar o avião, fui ao cinema, exausta, com todas as minhas malas, mochilas e perguntas fervilhando na cabeça. Tive sorte: vi o filme “Violeta se fue a los cielos”, sobre a vida e obra da cantora chilena Violeta Parra, mulher extraordinária que aos cinquenta anos de idade, depois de uma vida lutando pela memória musical do cancioneiro popular seu país, se suicida com um tiro, sofrendo por amor. Me peguei chorando uma tarde, em um cinema qualquer de Buenos Aires, pensando em cada uma das mulheres que conheci nesses dias, pensando em bons e maus encontros, em quem estava esperando por mim em casa e quem eu não sabia se veria novamente. Lembrei de minha avó paterna, outra semente jogada em meu coração nos dias de viagem deste encontro.

Nesse mesmo dia, ao chegar no aeroporto, sem nem mesmo esperar, encontro Ya Ling Peng na porta do embarque. Rimos juntas, comprando alfajores e quando me despedi dela, em direção ao meu voo, me deu uma vontade enorme de parar, levantar minha mão direita em um gesto lento de adeus, puxar um fio imaginário do alto da minha cabeça, arrancá-lo e silenciosamente dizer: Adeus Argentina, hasta luego!

Mas para entender mesmo esta minha sequência de gestos de adeus, só mesmo tendo vivido o que se passou nesses dias especiais, memória que partilho nesse pequeno espaço com as companheiras de trabalho em Buenos Aires e Dolores, que compartilharam umas certas 20 quadras entre um cemitério e uma praça, em um  outubro/novembro de 2011. Gracias a todas e todos!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011


Uma Ofélia portenha


Marisa Naspolini



Ofélia é uma personagem de Shakespeare que integra a tragédia Hamlet, considerada a obra mais densa – e provavelmente a mais representada – do dramaturgo bardo. Na peça, Ofélia é a noiva do protagonista e vive um romance tumultuado em meio às conturbadas relações de poder presentes no Reino da Dinamarca do século 16. Colocada em segundo plano na trama, Ofélia ganhou muito interesse por parte de pintores no decorrer dos séculos e é considerada a personagem de Shakespeare mais retratada na pintura. Em Hamlet, ela é encontrada afogada em um rio e sua morte é dada como suicídio. Ofélia é normalmente vista como uma heroína frágil, bela, suave, o arquétipo da donzela indefesa. Recentemente, historiadores britânicos afirmaram que a sua história teria sido inspirada em um caso real, um afogamento acontecido no Rio Avon, próximo a onde Shakespeare viveu. A morta (de verdade) seria provavelmente uma prima distante do escritor.

Ofélia é também o nome de um espaço de arte – Ofelia Casa Teatro – localizado em Palermo Soho, em Buenos Aires, onde se pode desfrutar de uma programação permanente em diversas áreas: teatro, audiovisual, dança, fotografia e artes plásticas. O lugar é acolhedor e inspirador, uma casa, como o próprio nome indica. Uma casa estilosa de dois andares feita de amplas salas com sofás e poltronas confortáveis e uma decoração descolada e pop que possibilita encontros ao redor de um café enquanto se espera pela hora do espetáculo que acontece na sala ao fundo, que comporta um público pequeno, de mais ou menos 50 pessoas. Palermo Soho é um bairro frequentado por artistas, intelectuais e boêmios, pontuado também pelo mercado de moda alternativa chique e descolada. A proliferação de bares, cafés e lojas de arquitetura singular lembra, não por acaso, o Soho original, agora transformado em adjetivo e copiado mundo afora.


Vale lembrar: em Nova York, SoHo significa South of Houston e designa uma área de Manhattan, ao sul da Rua Houston, que abriga uma infinidade de galerias, lofts de artistas e lojas bacanas. No início do século 20, a região estava repleta de galpões e armazéns abandonados e sua transformação foi considerada um exemplo de revitalização urbana. O Soho londrino também é um bairro tradicionalmente ligado às artes e à efervescência intelectual. Por ali passaram nomes e ocorreram movimentos importantes que mexeram com o pensamento e a moral ocidental.

Ofélia é ainda o nome que a professora de crítica literária e performer radicada em Brasília Lucia Sander escolheu para dar a seu espetáculo, que propõe uma versão inusitada e atualizada para a história renascentista da Ofélia de Shakespeare. Quatrocentos anos depois Ofélia volta à cena para esclarecer as circunstâncias de sua morte– seria um assassinato? Em Ofélia Explica ou O Renascimento Segundo Ofélia, Lucia ressuscita Ofélia, agora escondida na periferia carioca, usando e abusando de gírias e jargões do rap, com pistola em punho e um cigarro nas mãos. Com humor e um tom crítico, mordaz, a performer traz a personagem para o centro da cena, revisando junto ao público a sua história de opressão. Ao invés de frágil e indefesa, Ofélia tem voz ativa e clama por seus direitos – no mínimo de ser ouvida.

Lucia Sander em Ofélia explica

Durante alguns dias, no Soho portenho, o nome de Ofélia pareceu resumir – ou traduzir – uma experiência contemporânea em arte na qual a mulher rediscute e reescreve sua história, criando uma nova identidade para si. Deu o que pensar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Notícias de Cardiff
Marisa Naspolini


De 16 a 21 de agosto, aconteceu em Cardiff o encontro Magdalena@25 - Challenge and Legacy, em comemoração aos 25 anos do projeto Magdalena. Além das atividades que normalmente acontecem em qualquer encontro/festival Magdalena ao redor do mundo, como workshops, mesas-redondas e perfomances/demonstrações de trabalho, neste encontro tivemos o prazer e a oportunidade de reunir três gerações de magdalenas (inclusive algumas veteranas que andavam meio distantes nos últimos tempos) para repensar, discutir, projetar, colaborar e, acima de tudo, comemorar o feito de que, além  de completar um quarto de século de existência, a Rede Magdalena está cheia de gás para permanecer viva e atuante. Prova disso é sua presença em inúmeros países de todos os continentes e o desejo de muitas mulheres de ampliar suas atividades. Em Gales, a Turquia foi eleita a bola da vez, o que significa que esforços serão canalizados para viabilizar a criação de um evento magdalena em Istambul nos próximos tempos. 
Estar no País de Gales para este encontro provocou sensações muito particulares. O fato de o país ter sido o berço onde nasceu, ou pelo menos onde foi batizado, o Projeto Magdalena, certamente desencadeou em todas e todos nós um resgate das memórias subjetivas – e também das coletivas – dos últimos 25 anos. Assim como nos perguntamos “onde você estava em 11 de setembro de 2001?”, e quase todo mundo se lembra e sabe responder, me pus a pensar onde eu estava e o que fazia enquanto 36 artistas mulheres se reuniam em Cardiff em agosto de 86 para fundar uma organização que anos mais tarde se tornaria uma referência importante pra mim. 
Eis que andando pelas ruas vazias de Cardiff, em uma manhã cinzenta e fria, tive um flashback inusitado e me lembrei que havia exatamente 25 anos, eu caminhava por uma rua parecida em um bairro londrino em direção ao trabalho. Na época eu dava meus primeiros passos em direção ao “profissionalismo” no teatro (o que significava decidir que queria fazer aquilo na vida) e estudava em Paris, no Conservatório Nacional de Artes Dramáticas (aproveitando uma bolsa que me foi concedida e aguardando uma oportunidade para fazer o que eu realmente desejava, que era um estágio com o Théâtre du Soleil). Enquanto aguardava o começo das aulas, fui visitar uns amigos e ganhar algum dinheiro em Londres. Então me dei conta que enquanto eu me debatia para sobreviver e estudar teatro nas condições possíveis de estudante sul-americana na Europa, na plenitude dos meus 20 anos, as primeiras magdalenas se reuniam pertinho dali (a apenas duas horas de carro) e davam início a um projeto com o qual, de forma totalmente inconsciente, eu já me identificava. Menos mal que o mundo dá voltas e podemos pegar carona no bonde que passa de novo...
Em Cardiff, éramos mais de 100 artistas de 28 países diferentes, vivendo o ritmo alucinado típico dos encontros magdalena. Não há tempo para nada que possa parecer preguiça ou ócio. Ainda assim, encontramos tempo para conversas e criação de novas amizades. A festa final, no último dia do encontro, foi uma ode à alegria e ao prazer de estar juntas e foi também extremamente divertida com a apresentação de bonecos feita por um time de atrizes escolhidas a dedo por Deborah Hunt. Em comum, além do talento, elas tinham a inexperiência com construção e manipulação de bonecos hehehe, o que tornou tudo mais interessante...
Fiquei uma semana a mais participando com Jill de um processo criativo baseado no tema DAUGHTER (ou DOHTER, no inglês arcaico, como preferiu Jill) que envolveu um grupo de performers de vários cantos do mundo. Portanto, ao invés de uma, vivi duas semanas muito intensas e transformadoras e voltei pra casa cheia de tarefas, entre elas correr atrás da viabilização do próximo Vértice, em julho de 2012.
Participar de um evento magdalena funciona pra mim - sempre – como um respiro vital (o que parece contraditório, dado o ritmo intenso das atividades). Lembro-me do quanto as relações são o que efetivamente alimenta meu amor pelo teatro e minha prática teatral. Na volta ao Brasil, reencontrar minhas parceiras e compartilhar as memórias recentes é uma forma de imediatamente reforçar os laços que nos unem e continuar trilhando nossos caminhos, buscando novas estratégias de sobrevivência de nossa arte coletivamente. Ah! O site do Projeto Magdalena foi totalmente remodelado. Vale a pena dar uma espiada e checar como foi a programação naqueles dias!



Chapter Arts Centre - Sede do encontro

Conversê no intervalo

Performance do Grenland Friteater que terminou em cervejada

O belo cartaz do Magdalena@25

No jardim da Catedral - Concerto Chants de  la Mer Noire

Meg ao piano - festa final de aniversário 25 anos

Apresentação de bonecos na festa final de aniversário 25 anos








sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Por quê?

Com certa frequência ouço perguntas do tipo: por que as mulheres se reúnem em fóruns específicos? Por que fazer um festival de teatro dedicado à produção de mulheres? Por que comemorar o dia da mulher? Por que delegacia exclusiva para mulheres? Seria uma tentativa de separatismo? Necessidade de autoafirmação? Guerra dos sexos? Feminismo fora de moda? Não, pelo contrário. As mulheres se organizam porque durante séculos, ou mesmo milênios, sua participação política e social foi não só reprimida, mas frequentemente proibida.

Na história do teatro, por exemplo, a possibilidade de o público ver uma mulher em cena só surgiu no século 17, no teatro inglês, quando o rei Charles II autorizou a primeira mulher a interpretar papéis femininos, até então vividos por homens. E a história do teatro remonta a pelo menos cinco séculos antes de Cristo. Não é de se admirar que nos livros de teatro só apareçam mestres homens. E assim é na maioria das áreas. Muitas vezes ouvimos que já não há porque seguir lutando por espaços para a mulher, que hoje já há igualdade de oportunidades entre os sexos (temos até uma presidente mulher!). Não é verdade. Há menos de 50 anos que as mulheres começaram a ocupar postos antes exclusivamente masculinos. São milhares de anos de vida restrita ao espaço doméstico contra algumas décadas de tentativa – e eventualmente efetiva – ocupação de espaços públicos. Certamente não se trata de excluir os homens, mas de encontrar espaços nos quais uma outra lógica – ou modo de pensar – possa prevalecer, ou pelo menos ser considerada, ainda que temporariamente. As mulheres são maioria no planeta, mas obviamente falamos apenas do aspecto quantitativo, porque continuamos compondo uma minoria no sentido do exercício pleno da cidadania na maioria dos países.

Espaços específicos servem não para segregar, mas para garantir que a voz de minorias seja ouvida com força, respeito e, se possível, com segurança. Outro dia li um artigo da escritora Rosiska Darcy de Oliveira, célebre defensora dos direitos das mulheres, no qual ela comentava que, compreensivelmente, “as escolhas sobre a maternidade, as condições da gravidez e do parto, as leis que tolhem ou propiciam liberdades, o temor atávico da violência sexual ocupam, nas vidas das mulheres, uma centralidade. (...) O útero é o primeiro meio ambiente que o ser humano conhece e não por acaso o corpo tem tamanha importância na vida das mulheres.”

Você já parou pra pensar que um em cada quatro lares britânicos abriga um caso de violência doméstica contra a mulher? Que nos Estados Unidos 300 mil crianças e adolescentes sofrem abusos sexuais anualmente, entre os quais quatro mil são de incestos de pais com filhas? Que na França 25 mil mulheres são violentadas a cada ano? Que em Santa Catarina uma mulher é vítima de violência doméstica a cada 46 minutos? Que em Zâmbia, cinco mulheres são assassinadas por semana por seus parceiros ou alguém próximo? Estes dados não fazem parte de regiões inóspitas, miseráveis e distantes. Fazem parte do nosso cotidiano, aqui e agora. São questões éticas nas quais o privado ganha dimensões políticas.

É inacreditável chegarmos ao século 21 e ainda existir gente que acha que tudo isso é bobagem. De acordo com pesquisas recentes, se seguirmos nesse ritmo, daqui a 400 anos poderemos falar em igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Como é provável que o planeta não dure tanto...


CONTEXTO | Marisa Naspolini
publicado no dia 13 de agosto de 2011 | Diário Catarinense

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Relato de Guanajuato – Projeto Magdalena no México


Participamos os três - Marisa, Monica e Roberto - do evento Sete Caminhos Teatrais, que este ano foi dedicado ao Projeto Magdalena (é a primeira edição mexicana). Por conta disso passamos dez dias, de 8 a 18 de julho, em Guanajuato, no México.

Prometemos a nós mesmas que durante o evento iríamos dedicar tempo para escrever pequenos relatórios (impressões) e compartilhá-los via web. Doce ilusão... afinal, onde encontrar tempo em meio a um turbilhão de atividades que preenchem manhã, tarde e noite? Além dos workshops, palestras e espetáculos, vale ressaltar, e muito, os encontros nos corredores, nas mesas do café da manhã, almoço, janta, e também as conversas de bar, após os espetáculos, regadas seja a água, suco, cerveja, vinho, ou tequila.

Passados 3 dias do festival, ainda estamos um tanto reflexivos diante de toda a experiência vivenciada. E muitas coisas estão por ser digeridas ainda. Podemos dizer que o choque cultural foi grande, em todos os aspectos, inclusive o gastronômico. Mas, para não adiar mais nossa promessa acerca dos relatos, deixamos aqui uma pequena nota sobre nossa viagem:



Guanajuato é uma cidade linda, de origem pré-colombiana, localizada no centro do país, e, além de ser referência cultural nacional, é um importante centro universitário. A cidade fascina pela profusão de cores, pelas ruas tortuosas e labirínticas calçadas com pedras, pelas construções arquitetônicas coloniais, pelo patrimônio histórico preservado, pelos túneis que cortam a cidade (herança do passado de minério). Logo na entrada da cidade, fomos surpreendidos por uma placa sugestiva: zona dos teatros. E nos pusemos a imaginar o que iria acontecer por ali nos dias seguintes.



Participamos com o espetáculo “Somático” e uma palestra. E fizemos contatos visando à realização do Vértice 2012, além de muitas novas amizades. O encontro reuniu mulheres – e homens - de vários países: País de Gales, Dinamarca, Singapura, Brasil, Itália, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, México e Japão.

Cada espetáculo, cada palestra, cada experiência compartilhada, parecia renovar – de formas muito distintas – o desejo e a necessidade de que o teatro provoque de forma efetiva alguma transformação. Transformação da realidade, do indivíduo, do olhar...

Um festival dedicado à produção de mulheres sempre proporciona um misto de sensações difícil de ser encontrado em outras partes: rigor, generosidade, disciplina, compaixão. E também muita disposição e alegria em toda parte. A começar pela coordenadora do evento, Amaranta Jeito, mexicana radicada na Espanha, de pai colombiano, que trabalhava com entusiasmo impressionante enquanto carregava sua bela barriga grávida de seis meses.


Nesta foto: Roberto, Monica, Marisa e Amaranta Jeito.

Estar em um projeto Magdalena no México foi especialmente impactante por causa da violência que permeia o cotidiano das mulheres deste país, especialmente as que vivem na fronteira entre México e EUA. A violência toma conta das ruas. Jovens de outros estados não podem viajar de carro porque há sequestros por toda parte nas estradas. O narcotráfico faz vítimas nas fronteiras a cada segundo e as mulheres são as escolhidas a dedo, sempre. Talvez por isso, os espetáculos, em sua maioria, denunciam, resistem, provocam, expõem mazelas pessoais e coletivas. Atores e público se desnudam revelando suas vulnerabilidades e angústias. A potência dessas produções parece estar na necessidade urgente de se fazer algo. É impossível não se comover.

A temática da violência sofrida por mulheres estava presente em muitos dos espetáculos realizados por companhias mexicanas, e por conta disso o festival foi permeado por discussões calorosas acerca do(s) feminismo(s) (pensado nos dias de hoje) e das necessidades e implicações de um festival de teatro de mulheres.

Para pensar tais questões foi muito importante a presença das fundadoras do The Magdalena Project, para nos relembrar suas inquietações iniciais que motivaram a criação do projeto. Jill  Greenhalgh nos falou de sua raiva por ser silenciada enquanto mulher e artista. Julia Varley nos falou  de teatro, e de que não se trata de dizer algo, mas sim de dar a possibilidade para a experiência.

E Patricia Ariza, em sua palestra, falou que o feminismo lhe ensinou algo muito importante: o privado é político.

Reunião de encerramento do 7 Caminos Teatrales


Voltamos para casa com a cabeça fervendo e o coração inquieto, com muitas perguntas e o desejo de dar continuidade ao nosso trabalho. São muitas as anotações feitas no caderno; frases capturadas em meio a histórias de vida contadas por mulheres artistas; devaneios e perguntas misturados a garatujas e palavras soltas. No meio dessa confusão motivadora, seguimos nossos caminhos: 

Monica e Roberto permanecem mais alguns dias conhecendo a Cidade do México. Marisa volta pra Floripa já em contagem regressiva pro próximo Magdalena, que acontece em agosto no País de Gales, em comemoração aos 25 anos do projeto.


Marisa, Monica e Roberto


Caminhada pelo pueblo de El Cubo

quarta-feira, 6 de julho de 2011

7 Caminos Teatrales e 25 anos do The Magdalena Project

   
    De 08 a 18 de julho acontece em Guanajuato o 7 Caminos Teatrales, ramificação do The Magdalena Project no México. E nós do Vértice Brasil estaremos participando através de uma palestra oferecida por Marisa Naspolini e da performance SOMÁTICO, de Monica Siedler e Roberto Freitas.
      Serão 10 dias de programação intensa, com workshops, palestras e espetáculos de artistas vindos de várias partes do mundo. Oportunidade de rever pessoas e conhecer tantas outras, aumentando a (já grande) rede de artistas que participam desse incrível projeto internacional.
       E esse é um ano especialmente importante para o The Magdalena Project, pois marca os 25 anos do projeto, que nasceu em Cardiff, no País de Gales, em 86.
Para comemorar a data, justamente em Cardiff, ocorrerá em agosto, do dia 16 a 21, o The Magdalena Project 25 years - Legacy and Challenge. E Marisa estará lá para a comemoração!!!


sexta-feira, 29 de abril de 2011

Conferência de Nerina Dip - Vértice 2010

Nerina Dip, atriz e pesquisadora teatral argentina disponibilizou o texto de sua conferência realizada no Vértice Brasil 2010. Para conferir o texto, que se chama "La potencia politica y poética del unipersonal" clique no link abaixo!

http://www.themagdalenaproject.org/archive/docs/la_potencia_politica.pdf

domingo, 10 de abril de 2011

RELATÓRIO SOBRE VÉRTICE BRASIL 2010: TRAVESSIA 
                                                              por Daniela Beny 
                 

     Quando Julia Varley me deu a missão de escrever este relatório sobre o Vértice Brasil 2010 - Travessia pensei imediatamente na dificuldade que teria em fazê-lo pela formalidade desta minha “tarefa”, mas lembrei que a própria Julia em um determinado momento abordou que a forma de escrita da mulher acabava sendo vetada em alguns editoriais de teatro pela afetividade presente nos textos, pois bem, sejamos afetivas então.
     Este será um ponto de vista muito particular, pois quando efetuei minha inscrição no Vértice não fazia a menor idéia do que realmente se tratava, nunca tinha ouvido falar no Magdalena’s Project e depois de ver no site a programação do evento ainda achava tudo muito distante da minha realidade.
     Como o tema do Vértice desse ano foi TRAVESSIA, nada melhor do que esta palavra para diminuir as distâncias, e acredito que foi justamente o que aconteceu com a maioria dos participantes (considerando sempre a presença dos homens que participaram do evento), não era apenas discutir a condição da mulher no teatro, ou apenas a busca por aperfeiçoamento profissional, era o acolhimento, a convivência, o compartilhar.
     Nos oito dias de imersão podemos compartilhar de cinco oficinas, catorze espetáculos, sete palestras, três demonstrações, vinte e três refeições, além das apresentações de cenas e de vários trajetos de van ou micro-ônibus, seria impossível não criar vínculos, não nos aproximarmos descobrindo afinidades e respeitando diferenças. E apesar do cansaço físico pela intensidade das atividades, dar vazão às novas rotas e conexões surgidas ao longo da semana compensavam qualquer sacrifício, inclusive das poucas horas de sono e da pressa durante as refeições.
     Alguns cruzaram o estado, outros o país, outros tantos o oceano para se fazerem presentes e participantes de algo que não deveria se chamar de evento, talvez a palavra que caiba melhor neste caso seja ACONTECIMENTO, dadas as transformações fecundadas naquele momento.
     As duas oficinas que vivenciei foram: Cruzando Fronteiras de Geddy Aniksdal e Ei, não sou mais eu... a experiência da máscara e da visita a um corpo/personagem ”esculpido” de Claudia Contin. Ambas, ao meu ver, embora muito distantes em seu conteúdo, evidenciam a necessidade de treinamento físico para a busca da dramaturgia do ator, considerando sempre seus referenciais pessoais como um dos daminhos para se alcançar outros estágios, além da disponibilidade para permitir-se experimentar.
     Com a demonstração das outras oficinas digo, sinceramente, que deu vontade de fazer todas, não apenas pelo conteúdo de cada uma delas, mas pelo entusiasmo das oficineiras, que assim como Geddy e Claudia demonstravam cuidado e muito apreço tanto pelo ofício quanto pelos participantes.
     Considero o momento das Rotas tão interessante quanto as oficinas ou demonstrações de trabalhos justamente pela abertura à discussão de aspectos fundamentais para quem trabalha com teatro, indo desde o teatro como ferramenta de inclusão social até relatos de pesquisas baseadas em processos de montagem.
     Da mesma maneira vejo a demonstração de trabalhos e a apresentação de cenas, por mais distintas que sejam as linguagens e metodologias, amplia nossos horizontes, uma vez que observar o trabalho de outras pessoas faz com que se abra um espaço para o diálogo e até mesmo a identificação, já que  percebendo no outro um trabalho semelhante não nos sentimos mais tão solitários dentro de nossos processos de pesquisa/montagem.
     Quanto aos espetáculos, independente do gosto pessoal, recebemos este presente da organização do Vértice, pois tanto os espetáculos de Florianópolis quanto das artistas convidadas além do deleite estético nos dava a inquietação de continuarmos lutando por um teatro possível, pautado em pesquisa, com argumento, com fundamentação teórica e experimentação prática, utilizando a multimídia de forma convergente e exaltando o material humano em cena, buscando do ator melhor que ele pode oferecer, pois, não é todo dia que temos a oportunidade de ver em cena referências do teatro mundial como Julia Varley, Ana Woolf, Geddy Aniksdal, Brigitte Cirla  e Claudia Contin – e todas as outras artistas convidadas, de todas as linguagens, com suas características tão específicas.
     São ACONTECIMENTOS assim, como o Vértice, que conseguem acessibilizar aquilo que a princípio é muito distante para a maioria dos profissionais de teatro, digo isso no que diz respeito às oficinas e aos espetáculos, mas o principal está no espaço para nossos questionamentos do lugar da mulher dentro do teatro e como nos colocamos em relação a isso, se pretendemos continuar à margem dessa travessia ou se pretendemos enfrentar as dificuldades e cruzar todos os obstáculos para conquistarmos um espaço que nos foi rejeitado durante tanto tempo. 
     Pela primeira vez, pude ver em cena, mulheres de várias gerações, com formação muito diferentes, com histórias de vida muito peculiares, mas que estavam ali por acreditar em algo muito maior, por acreditarem em si e na sua capacidade de transformação do mundo através do teatro, o que me enche de esperança, pois se em 1986 iniciaram o Magdalena’s Project, em 2004 começou a se pensar no Vértice, daqui pra frente muito ainda pode se multiplicar e buscar uma continuidade nas atividades.
     Em relação à organização, podemos resumir tudo em duas palavras: acolhimento e respeito, embora nunca tivesse visto aquelas pessoas em toda minha vida, a impressão que tinha é que estava lidando com amigas de longa data, pela disponibilidade, paciência, cuidado e delicadeza com a qual estávamos sendo todos tratados, claro que isso ia se refletindo entre nós participantes, estávamos todos ali com uma finalidade específica de forma harmoniosa e bem organizada, clara, direta, objetiva, porém, sem autoritarismo, tendo no diálogo o princípio de tudo. Nunca é demais dizer que Marisa e equipe estão de parabéns.
     Depois de ter sido “responsabilizada” de escrever este relatório, Julia pediu que os participantes dissessem um desejo e um objetivo, depois de ter vivenciado tudo que vi, compartilhado de tantas conversas, apreendido tanta coisa pela simples convivência, o mínimo que eu podia fazer era ser sintética e abrangente, e dizer que meu desejo e meu objetivo eram um só “Não desistir de mim como atriz.”, que outros Vértices venham, que outros participantes se agreguem, que possamos assim transformar um pouco mais aquilo que já nos é sagrado, o teatro.

domingo, 20 de março de 2011

Criação do Blog Vértice Brasil

O Blog do Projeto Vértice Brasil foi criado para agilizar a comunicação com todos os artistas que fazem parte da rede criada pelos encontros e festivais de 2008 e 2010 e com as outras redes internacionais ligadas ao Magdalena Project. Este será um novo canal de publicação das novidades, notícias e informações sobre o Vértice Brasil e também de recebimento de comentários, mensagens e sugestões.