segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Notícias de Cardiff
Marisa Naspolini


De 16 a 21 de agosto, aconteceu em Cardiff o encontro Magdalena@25 - Challenge and Legacy, em comemoração aos 25 anos do projeto Magdalena. Além das atividades que normalmente acontecem em qualquer encontro/festival Magdalena ao redor do mundo, como workshops, mesas-redondas e perfomances/demonstrações de trabalho, neste encontro tivemos o prazer e a oportunidade de reunir três gerações de magdalenas (inclusive algumas veteranas que andavam meio distantes nos últimos tempos) para repensar, discutir, projetar, colaborar e, acima de tudo, comemorar o feito de que, além  de completar um quarto de século de existência, a Rede Magdalena está cheia de gás para permanecer viva e atuante. Prova disso é sua presença em inúmeros países de todos os continentes e o desejo de muitas mulheres de ampliar suas atividades. Em Gales, a Turquia foi eleita a bola da vez, o que significa que esforços serão canalizados para viabilizar a criação de um evento magdalena em Istambul nos próximos tempos. 
Estar no País de Gales para este encontro provocou sensações muito particulares. O fato de o país ter sido o berço onde nasceu, ou pelo menos onde foi batizado, o Projeto Magdalena, certamente desencadeou em todas e todos nós um resgate das memórias subjetivas – e também das coletivas – dos últimos 25 anos. Assim como nos perguntamos “onde você estava em 11 de setembro de 2001?”, e quase todo mundo se lembra e sabe responder, me pus a pensar onde eu estava e o que fazia enquanto 36 artistas mulheres se reuniam em Cardiff em agosto de 86 para fundar uma organização que anos mais tarde se tornaria uma referência importante pra mim. 
Eis que andando pelas ruas vazias de Cardiff, em uma manhã cinzenta e fria, tive um flashback inusitado e me lembrei que havia exatamente 25 anos, eu caminhava por uma rua parecida em um bairro londrino em direção ao trabalho. Na época eu dava meus primeiros passos em direção ao “profissionalismo” no teatro (o que significava decidir que queria fazer aquilo na vida) e estudava em Paris, no Conservatório Nacional de Artes Dramáticas (aproveitando uma bolsa que me foi concedida e aguardando uma oportunidade para fazer o que eu realmente desejava, que era um estágio com o Théâtre du Soleil). Enquanto aguardava o começo das aulas, fui visitar uns amigos e ganhar algum dinheiro em Londres. Então me dei conta que enquanto eu me debatia para sobreviver e estudar teatro nas condições possíveis de estudante sul-americana na Europa, na plenitude dos meus 20 anos, as primeiras magdalenas se reuniam pertinho dali (a apenas duas horas de carro) e davam início a um projeto com o qual, de forma totalmente inconsciente, eu já me identificava. Menos mal que o mundo dá voltas e podemos pegar carona no bonde que passa de novo...
Em Cardiff, éramos mais de 100 artistas de 28 países diferentes, vivendo o ritmo alucinado típico dos encontros magdalena. Não há tempo para nada que possa parecer preguiça ou ócio. Ainda assim, encontramos tempo para conversas e criação de novas amizades. A festa final, no último dia do encontro, foi uma ode à alegria e ao prazer de estar juntas e foi também extremamente divertida com a apresentação de bonecos feita por um time de atrizes escolhidas a dedo por Deborah Hunt. Em comum, além do talento, elas tinham a inexperiência com construção e manipulação de bonecos hehehe, o que tornou tudo mais interessante...
Fiquei uma semana a mais participando com Jill de um processo criativo baseado no tema DAUGHTER (ou DOHTER, no inglês arcaico, como preferiu Jill) que envolveu um grupo de performers de vários cantos do mundo. Portanto, ao invés de uma, vivi duas semanas muito intensas e transformadoras e voltei pra casa cheia de tarefas, entre elas correr atrás da viabilização do próximo Vértice, em julho de 2012.
Participar de um evento magdalena funciona pra mim - sempre – como um respiro vital (o que parece contraditório, dado o ritmo intenso das atividades). Lembro-me do quanto as relações são o que efetivamente alimenta meu amor pelo teatro e minha prática teatral. Na volta ao Brasil, reencontrar minhas parceiras e compartilhar as memórias recentes é uma forma de imediatamente reforçar os laços que nos unem e continuar trilhando nossos caminhos, buscando novas estratégias de sobrevivência de nossa arte coletivamente. Ah! O site do Projeto Magdalena foi totalmente remodelado. Vale a pena dar uma espiada e checar como foi a programação naqueles dias!



Chapter Arts Centre - Sede do encontro

Conversê no intervalo

Performance do Grenland Friteater que terminou em cervejada

O belo cartaz do Magdalena@25

No jardim da Catedral - Concerto Chants de  la Mer Noire

Meg ao piano - festa final de aniversário 25 anos

Apresentação de bonecos na festa final de aniversário 25 anos








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