sexta-feira, 22 de julho de 2011

Relato de Guanajuato – Projeto Magdalena no México


Participamos os três - Marisa, Monica e Roberto - do evento Sete Caminhos Teatrais, que este ano foi dedicado ao Projeto Magdalena (é a primeira edição mexicana). Por conta disso passamos dez dias, de 8 a 18 de julho, em Guanajuato, no México.

Prometemos a nós mesmas que durante o evento iríamos dedicar tempo para escrever pequenos relatórios (impressões) e compartilhá-los via web. Doce ilusão... afinal, onde encontrar tempo em meio a um turbilhão de atividades que preenchem manhã, tarde e noite? Além dos workshops, palestras e espetáculos, vale ressaltar, e muito, os encontros nos corredores, nas mesas do café da manhã, almoço, janta, e também as conversas de bar, após os espetáculos, regadas seja a água, suco, cerveja, vinho, ou tequila.

Passados 3 dias do festival, ainda estamos um tanto reflexivos diante de toda a experiência vivenciada. E muitas coisas estão por ser digeridas ainda. Podemos dizer que o choque cultural foi grande, em todos os aspectos, inclusive o gastronômico. Mas, para não adiar mais nossa promessa acerca dos relatos, deixamos aqui uma pequena nota sobre nossa viagem:



Guanajuato é uma cidade linda, de origem pré-colombiana, localizada no centro do país, e, além de ser referência cultural nacional, é um importante centro universitário. A cidade fascina pela profusão de cores, pelas ruas tortuosas e labirínticas calçadas com pedras, pelas construções arquitetônicas coloniais, pelo patrimônio histórico preservado, pelos túneis que cortam a cidade (herança do passado de minério). Logo na entrada da cidade, fomos surpreendidos por uma placa sugestiva: zona dos teatros. E nos pusemos a imaginar o que iria acontecer por ali nos dias seguintes.



Participamos com o espetáculo “Somático” e uma palestra. E fizemos contatos visando à realização do Vértice 2012, além de muitas novas amizades. O encontro reuniu mulheres – e homens - de vários países: País de Gales, Dinamarca, Singapura, Brasil, Itália, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, México e Japão.

Cada espetáculo, cada palestra, cada experiência compartilhada, parecia renovar – de formas muito distintas – o desejo e a necessidade de que o teatro provoque de forma efetiva alguma transformação. Transformação da realidade, do indivíduo, do olhar...

Um festival dedicado à produção de mulheres sempre proporciona um misto de sensações difícil de ser encontrado em outras partes: rigor, generosidade, disciplina, compaixão. E também muita disposição e alegria em toda parte. A começar pela coordenadora do evento, Amaranta Jeito, mexicana radicada na Espanha, de pai colombiano, que trabalhava com entusiasmo impressionante enquanto carregava sua bela barriga grávida de seis meses.


Nesta foto: Roberto, Monica, Marisa e Amaranta Jeito.

Estar em um projeto Magdalena no México foi especialmente impactante por causa da violência que permeia o cotidiano das mulheres deste país, especialmente as que vivem na fronteira entre México e EUA. A violência toma conta das ruas. Jovens de outros estados não podem viajar de carro porque há sequestros por toda parte nas estradas. O narcotráfico faz vítimas nas fronteiras a cada segundo e as mulheres são as escolhidas a dedo, sempre. Talvez por isso, os espetáculos, em sua maioria, denunciam, resistem, provocam, expõem mazelas pessoais e coletivas. Atores e público se desnudam revelando suas vulnerabilidades e angústias. A potência dessas produções parece estar na necessidade urgente de se fazer algo. É impossível não se comover.

A temática da violência sofrida por mulheres estava presente em muitos dos espetáculos realizados por companhias mexicanas, e por conta disso o festival foi permeado por discussões calorosas acerca do(s) feminismo(s) (pensado nos dias de hoje) e das necessidades e implicações de um festival de teatro de mulheres.

Para pensar tais questões foi muito importante a presença das fundadoras do The Magdalena Project, para nos relembrar suas inquietações iniciais que motivaram a criação do projeto. Jill  Greenhalgh nos falou de sua raiva por ser silenciada enquanto mulher e artista. Julia Varley nos falou  de teatro, e de que não se trata de dizer algo, mas sim de dar a possibilidade para a experiência.

E Patricia Ariza, em sua palestra, falou que o feminismo lhe ensinou algo muito importante: o privado é político.

Reunião de encerramento do 7 Caminos Teatrales


Voltamos para casa com a cabeça fervendo e o coração inquieto, com muitas perguntas e o desejo de dar continuidade ao nosso trabalho. São muitas as anotações feitas no caderno; frases capturadas em meio a histórias de vida contadas por mulheres artistas; devaneios e perguntas misturados a garatujas e palavras soltas. No meio dessa confusão motivadora, seguimos nossos caminhos: 

Monica e Roberto permanecem mais alguns dias conhecendo a Cidade do México. Marisa volta pra Floripa já em contagem regressiva pro próximo Magdalena, que acontece em agosto no País de Gales, em comemoração aos 25 anos do projeto.


Marisa, Monica e Roberto


Caminhada pelo pueblo de El Cubo

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