sexta-feira, 4 de outubro de 2013

DIFERENTES PRESENÇAS

Ou sobre a Trilogia Ninguém é Impossível



Monica Siedler


Minha produção artística dos últimos anos esteve de certa forma bastante próxima do Vértice Brasil e Magdalena Project. Foi por intermédio da primeira performance 1A (UMA) que Marisa Naspolini me apresentou o Magdalena Project e seu desejo e necessidade de realiza-lo em Florianópolis. Depois de apresentar 1A (UMA) no 1º Vértice Brasil em 2008 tive a oportunidade de ir para o Transit Festival na Dinamarca (2009) e mais tarde, com outro trabalho, ir para o México, participar do 7 Caminos Teatrales (2011). Não consigo expressar em palavras o impacto que essas experiências tiveram sobre mim e como me estimularam a continuar minha pesquisa artística. Meus dois trabalhos seguintes, como não podia deixar de ser, estrearam no Vértice Brasil.

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Recentemente apresentei, junto com Roberto Freitas, a “Trilogia Ninguém é Impossível”  no SESC Ipiranga, em São Paulo. Primeira vez que montamos as três performances 1A (UMA), SOMÁTICO e Só depois em seqüência (um dia cada), e com o privilégio de ter um feedback de artistas convidados para debater os trabalhos: Lucio Agra, Sheila Ribeiro e Luisa Paraguai, com mediação da professora de artes do corpo da PUC Samira Borovik. O diálogo devia namorar com o tema título do projeto no qual estávamos inseridos: corpo e mídia. 


Performance SOMÁTICO


Questões - que costumam aparecer a partir de nosso trabalho - foram levantadas: a presença/ausência da performer na cena; os estereótipos femininos; a multiplicidade de sentidos possíveis que a narrativa aberta permite; a repetição de ações; a articulação de som/imagem/luz manipuladas ao vivo.

Mas teve uma questão em especial que ganhou destaque nos três dias a partir da fala dos artistas convidados [que estavam presentes cada um em apenas uma das performances]: a  criação feita em parceria.

Pode parecer bobo, já que muitos trabalhos dependem da articulação de pessoas com seus saberes específicos que se juntam para realizar espetáculos, intervenções, etc. Mas nesse caso ganha um sentido a mais, já que a princípio vê-se em destaque apenas um corpo na cena. No caso o meu corpo. [Apesar de que sempre assumimos a presença do Roberto no palco com os computadores].

Afinal, o que se falou é que é o diálogo que constitui a situação da cena nas três performances, ou seja, a tecnologia (projeção, luz, monitores) não aparece acoplada à cena, mas constitui a cena em relação direta comigo, revelando intensidades de diferentes presenças. Presenças que foram registradas pela câmera de vídeo e projetadas, e a presença que está em “carne e osso” no palco. De tal modo que as presenças que foram registradas, por exemplo, elas estão tão presentes quanto as que estão no palco.

E mais:

São duas pessoas dançando no palco; tem muito de mim ali, e tem muito do Roberto ali.  E aí eu entendo o sentido de parceria. De dois mundos singulares (no seu sentido de sozinho, no seu sentido de único), que compartilham ideias, desejos, loucuras, num esforço continuo de liberar forças e de não agir de forma impositiva. E não ser impositivo é de fato uma luta (pessoal e coletiva), nem sempre fácil, e que nem sempre vencemos.

Mas é isso: a Trilogia não tem um diretor, não tem apenas uma voz que fala, não é a “expressão” de alguém. É uma terceira coisa, que nasce e morre a cada vez. Que se completa com o observador. Um observador ativo, que tem espaço (assim desejamos) para articular seu imaginário em relação ao nosso. [Nada contra a figura do diretor. Cada montagem artística é conduzida a seu modo].

De modo que, a cada dia fica mais evidente, para mim, que a maneira como organizamos internamente a criação de uma produção artística é determinante nos modos como ela chega ao olhar estrangeiro e curioso do espectador. E por organização me refiro  à organização entre pessoas, afetos.

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Fico pensando em minha aproximação à rede Magdalena e ao incentivo que tive e que tenho constantemente de elaborar uma fala pessoal (em constante transformação) e de compartilha-la, não numa tentativa de projeção artística, mas para estabelecer relações, parcerias, confrontos saudáveis entre pessoas diferentes vindas de contextos diversos. Cada festival, cada encontro, por mais curto que possa parecer pela duração no tempo-espaço, tem a força de reverberar, de deixar marcas duradouras no corpo, de se fazer presença, de prolongar a experiência e transforma-la em potência de ação.

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